Rapidinhas: feminismo e maternidade

Tenho me irritado menos com os palpites do que com as previsões para o futuro. Gente que jura que sabe como vai ser minha vida quando Teresa nascer, que sabe tudo que vou fazer ou deixar de fazer, ser ou deixar de ser.

Entendo que as pessoas interpretam o mundo com base nas próprias experiências e que requer um certo esforço enxergar (e respeitar!) as pluralidades. E no quesito maternidade, já diz o senso comum que “mãe é tudo igual”, né?! Não é!

Posso até não saber como eu serei, mas conheço mães diferentes o suficiente pra saber que isso não é verdade. Esse pensamento só reforça a ideia de que só há um jeito possível (e, portanto, correto) de exercer a maternidade.

Um parto não é uma passagem por um portal que elimina nossas diferenças. Esse é o patriarcado querendo nos colocar em forminhas de “mães perfeitas”, esse lugar tão impossível quanto desagradável. Quero não, obrigada!⁠


Grávida, autônoma e com um trabalho menos tradicional, a coisa que eu mais escuto é: “mas você tem sorte, porque pode trabalhar quando quiser”. Gente, não! Não é assim! Meu trabalho é trabalho, não é hobbie. Portanto, se eu não trabalho, eu não ganho dinheiro, se eu não ganho dinheiro, eu não pago boletos. E todo mundo sabe o que acontece quando a gente não paga os boletos, né!?

Em geral, a pessoa não fala isso por mal, muito pelo contrário até. Mas por trás dessa fala se esconde um pensamento muito machista, de que meu trabalho é secundário (ou até irrelevante) no sustento da nossa família.

Meu pai também é autônomo, sempre foi, e nunca na minha vida, eu ouvi alguém falar a mesma coisa pra ele. Por que será?

A gente tem que parar de tratar o trabalho da mulher (nesse contexto específico, da mulher que tem um parceiro) como algo de menor importância, que é feito nas horas vagas, quando não se tem mais nada pra fazer e que pode ser abandonado a qualquer momento.

Gosto muito e me orgulho muito da carreira que estou há tantos anos construindo e preso demais pela minha liberdade e, no nosso sistema, ela passa também pela liberdade financeira. Então, não, eu não posso trabalhar quando e quanto quiser. E, olha, nem quero!

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