O que a série Abstract pode nos ensinar sobre estilo?
Semana passada, eu levantei o tema de “referências” lá no Instagram e surgiram muitas dúvidas e comentários – coisa que eu nem imaginava que aconteceria.
Coincidentemente, no mesmo dia que eu fiz o post e os stories, eu assisti o primeiro episódio da série Abstract: The Art of Design (tem na Netflix!) e como eu tava com esse assunto na cabeça, acabei traçando vários paralelos entre o episódio e meu trabalho, especialmente sobre essa história das referências.
Antes de mais nada, deixa eu contextualizar:
A série documental Abstract: The Art of Design tem oito episódios e em cada um deles conta um pouco sobre a rotina de trabalho de oito pessoas do mundo criativo: tem ilustrador, designer gráfico, de tênis, de carros, de interiores, arquiteto, cenógrafo e fotógrafo.
O primeiro episódio é sobre o ilustrador alemão Christoph Niemann que, entre outras coisas, já ilustrou capas para as revistas The New York Times Magazine, Wired, Time, American Illustration e The New Yorker.
No episódio ele fala sobre processo criativo, como é trabalhar com criação e criatividade, mostra um pouco da rotina – tudo isso enquanto desenvolve uma capa para o The New Yorker.
Daí que ele levanta alguns pontos super interessantes sobre o próprio trabalho, mas que eu acabei transpondo pro meu e pra maneira que a gente pensa e vive o próprio estilo (sim, gente, porque estilo é vivência!).
Não existe fórmula pronta para exercícios criativos
Logo de cara, o Christoph já diz que, como pessoa controladora que é, ele adoraria ter criado a fórmula perfeita pra criar, mas que não funciona assim. Cada trabalho é um trabalho novo, com demandas diferentes e que ele vai abordar de uma maneira diferente.
E com nosso exercício diário do vestir é a mesma coisa. Eu entendo que montar looks diferentes a cada dia, versatilizando o que a gente tem, é um exercício criativo e, portanto, eu não tenho como fazer um roteiro, falar pra vocês seguirem e fingir que a questão tá resolvida. Porque não funciona assim.
Ainda que seja uma tarefa corriqueira, assim como os jobs de um ilustrador, cada vez que vamos nos vestir dos deparamos com demandas e deadlines e limitações diferentes.
Tem dia que a gente se veste pra reunião de trabalho, em outros, pra sair com os amigos. Tem dias de calor e de frio e dias que tem os dois. Tem dias que vamos andar muito, tem dias que só vamos ficar sentados. Tem dias que queremos aparecer, tem dias que queremos sumir. Tem dias de alegria, dias de cansaço, dias de gripe, dias de celebração. Tem dias que vamos nos arrumar com calma ouvindo nossas músicas preferidas e dias que teremos que sair correndo, terminando de nos arrumar no meio do caminho.
Cada uma dessas situações vai exigir uma abordagem diferente. Mas pra facilitar, temos alguns artifícios. O que nos leva para o item dois.
“Inspiração é para amadores, nós, profissionais, trabalhamos”
Dá pra interpretar essa frase, creditada ao Chuck Close, de duas formas:
A primeira é que não adianta esperar a inspiração cair do céu. Tem que trabalhar, testar, experimentar, errar. Com estilo é a mesma coisa. Estilo é vivência. Estilo acontece no corpo, não na pasta do Pinterest.
E como tudo na vida, melhora com a prática. Não tem como ficar expert em montar looks criativos se tiver preguiça de praticar.
Segundo, não existe inspiração divina ou dom. Não tem essa de “nascer sabendo”. Pode até ser mais fácil pra uns do que pra outros, por uma questão de habilidade mesmo, mas, de qualquer maneira, tem muito estudo e trabalho envolvido. O que nos leva para o item 3.
Ninguém cria nada do nada
Ao longo do episódio, fica claro que, além de muito estudo e trabalho envolvidos, tem também uma constante construção de repertório. O ilustrador tá o tempo todo observando atentamente tudo ao redor, as pessoas, a cidade, o trabalho de outras pessoas. É assim que a gente alimenta a criatividade.
Também fica muito claro como ele incorpora esse repertório ao trabalho dele de maneira muito subjetiva, o que faz com que seu trabalho seja cheio de personalidade. É muito diferente de fazer CRTL C + CRTL V nas referências. É incorporar aquilo tudo ao que você sabe, de maneira que você não usa as referências de maneira literal, mas subjetiva. 😉
Voltarei mais a esse assunto aqui no blog e lá no Instagram, mas aproveito pra convidar vocês a participarem do Descomplica! Estilo e comunicação. Nesse workshop, nós vamos trabalhar esse assunto de maneira bem prática!
E fica aqui a dica pra vocês assistirem essa série que rendeu vários bons insights!