É possível ser feminista e gostar de moda?

Vamos começar esclarecendo uma coisa: dizer que a moda oprime as mulheres é uma constatação simplista.

Certamente a indústria pode oprimir e explorar os trabalhadores, mas o primeiro movimento de Libertação das Mulheres questionou a moda não por causa dessa opressão, mas, sim, a representação, considerando-a uma trivialidade que funcionou para construir uma falsa feminilidade.

É por isso que as feministas dos anos 60 e 70 queimaram não só sutiãs, mas também saltos altos, bolsas e spray de cabelo. O objetivo ali era um tanto utópico: “sair” da moda. Nas décadas de 1960 e 1970 (e não estamos vendo esse movimento repetir-se atualmente?), muitas feministas entendiam que essa busca por uma certa “naturalidade” – representada pela abolição dos sutiãs, da depilação, dos cortes de cabelo da moda – tinha a ver com uma busca por um eu mais autêntico.

Mas essa equação em si mesma é problemática, porque, afinal, é difícil pensar que existe um eu natural (nem sou que tô dizendo isso, é Foucault!), nós somos todos seres de bando e de afeto, ou seja, somos permeados pela cultura. Além disso, de que moda estamos falando? Da moda enquanto uma organização social da aparência, certo!? Não usar sutiã ou maquiagem ou salto alto também não seria uma forma de comunicar nosso posicionamento a partir dessa organização da nossa imagem? Sendo assim, seria esse um problema da moda (ou do vestir) ou uma questão do posicionamento que assumimos a partir dela?

A moda pode ser conformista e certamente tem suas vítimas, mas também pode ser um experimento com as aparências que desafia os significados culturais. Pra mim, interessa mais olhar para esses significados do que debater indefinidamente se a moda oprime as mulheres ou não.

E para quem gosta desse assunto e quer se aprofundar, logo no primeiro encontro o grupo de estudos, vou trazer um texto da bell hooks, questionando exatamente isso a partir da perspectiva de uma mulher negra. Afinal, quando o assunto é moda e feminismo, costuma-se tomar como referencial a mulher-branca-cis-burguesa e isso também é uma problemática que precisamos repensar!

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