Entre corpo e roupa: relações possíveis

Se você acompanha meu trabalho tem algum tempo, já sabe que eu não sou adepta dessas regras que limitam nosso estilo em função do corpo, certo? Sabe essa história de baixinha tem que evitar isso, que mulher gorda não pode aquilo, que tem que usar tal e tal truque pra alongar a silhueta? Pois é, você nunca viu um post desses por aqui e nem vai ver.

Aliás, já fiz um post sobre isso aqui, lembra?

Em primeiro lugar, é muito importante lembrar que, embora esses princípios realmente sejam capazes de provocar certa mudança na nossa percepção da nossa silhueta, eles têm efeito limitado:

IMAGEM ESTÁTICA X MOVIMENTO

Algumas dessas técnicas tem mais efeito em objetos bidimensionais e estáticos. O que percebemos como efeito dessas técnicas em uma foto, não é o que percebemos como efeito no cotidiano.

CONTEXTO

Utilizar técnicas de maneira descontextualizada, sem considerar o todo é um erro. Dizer que “branco engorda, preto emagrece” ou que “colar comprido alonga” é simplificar a técnica de tal maneira que ela deixa de fazer qualquer efeito.

E, claro, precisamos questionar a necessidade de nos encaixarmos em um único padrão de corpo!

Mas aí entramos numa outra questão que tem me deixado inquieta ultimamente:

Primeiro que questionar os padrões de beleza, ter essa consciência da imposição de um determinado tipo de corpo como o ideal, não elimina as questões que temos com o nosso próprio corpo.

E segundo, será que é possível (e preciso!) eliminar todos os incômodos com relação ao nosso corpo?

Calma, calma que vou me explicar:

Meu ponto é que tá tudo bem ter certos incômodos. Incômodos e insatisfações fazem parte da vida. Esse discurso de positividade tóxica feat. autoaceitação, nos fizeram acreditar que a gente precisa eliminar todo sentimento negativo das nossas vidas, mas olha, sentimentos negativos fazem parte da experiência humana. A questão é o que a gente faz com eles!

E falando de corpo, existem incômodos e incômodos.

Tem aquele incomodo tão grande que impede que a gente aproveite a vida, desfrute dos prazeres que ela oferece, inclusive, desses prazeres que estão no corpo. Tem não vá à praia por medo de colocar um maiô, tem quem só transe de luz apagada com vergonha do olhar do corpo sobre si. E, bem, não sou autoridade no assunto, mas esse é um tipo de incômodo que vale a pena ser trabalhado.

Mas também tem quem ache o braço gordo demais, a barriga muito saliente e prefira não deixar essas partes tão evidência. Nada que limite a vida, nem o estilo. É alguém que usa regata, mas prefere que a alcinha não seja tão fina. Ou alguém que usa tudo quanto é tipo de parte de baixo, desde que não seja super colada.

Percebe a diferença?

E o que tudo isso tem a ver com o vestir?

Tem a ver que, se por um lado, limitar o nosso estilo, a nossa criatividade, o nosso prazer com relação ao vestir por conta do corpo tá muito longe de ser a experiência mais legal. Por outro, é um corpo que a gente veste e não dá para ignorar nem esse corpo, nem o que sentimos em relação a ele.

Então, se eu não vou sair distribuindo regras de alonga, afina, adequa pra todo mundo, também não sair dizendo “olha, você precisa se aceitar e usar todos os tipos de roupa que existem por aí, esquece seu corpo”. Afinal, não posso ignorar que a roupa pode, sim, mudar a nossa percepção de silhueta e que essa pode ser uma abordagem pra gente olhar para o nosso corpo de uma outra maneira.

Ninguém tem que nada, mas se quiser, pode.

Até porque, a autoceitação não pode virar a nova imposição, né!? E deixa eu te contar, já tá virando!

Então se você é baixinha e ama usar saia midi com tênia (euzinha, aqui!), se joga! Mas se você prefere não usar um vestido bandage porque vai marcar sua barriga, tá tudo bem também!

O corpo (e, principalmente, aquilo que você não ama nele) não pode ser determinante do seu estilo. Mas não podemos nos esquecer que seu estilo veste um corpo!

Aliás, tem um episódio maravilhoso sobre isso no meu falecido podcast com a Juliana Leite, o Batom Vermelho: clica aqui para ouvir!

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