Quem tem medo de chamar atenção?
Na minha experiência como consultora de estilo, dia sim, dia também, eu me deparo com mulheres que tem muito medo de “chamar atenção”. Quando a gente vai investigar isso mais à fundo, percebe que, na verdade, bem lá no fundo, o que elas mais querem é, sim, serem notadas, reconhecidas e ouvidas, tanto no trabalho quanto na vida pessoal, mas, na prática, morrem de medo que isso aconteça de fato.
Parece contraditório, eu sei. Mas acontece que nós fomos ensinadas assim: devemos ser humildes, ocupar pouco espaço, falar baixo, rir de forma comedida, não chamar atenção, afinal. Num dos trechos de A Dominação Masculina, livro do Pierre Bourdieu, ele coloca assim:
“Como se a feminilidade se medisse pela arte de ‘se fazer pequena’ (…), mantendo as mulheres encerradas em uma espécie de cerco invisível (…), limitando o território deixado aos movimentos e aos deslocamentos de seu corpo – enquanto os homens ocupam maior lugar com seu corpo, sobretudo em lugares públicos.”
A partir daí, dá pra entender esse sentimento parodoxal entre “quero ser notada” x “morro de medo de aparecer”, certo?
E claro, né, isso esbarra na nossa imagem. É medo de usar brilho, batom vermelho, cor, estampa, ou qualquer outra coisa que possa ser considerada chamativa (e que muitas vezes nem é de verdade, mas isso é outro assunto!).
Vejo tudo isso no dia-a-dia do meu trabalho. Gente que se encanta por peças super impactantes, tem várias delas no armário, mas na hora de botar pra jogo, cadê? E lá vai se vestir de calça jeans e camisa branca (nada errado com o combo, o ponto aqui é outro, certo?)
O ponto é que nossas escolhas com relação ao vestir raramente são sobre roupa. Quase nunca são, na verdade.
O medo de usar uma peça colorida e ser a única vestida assim não é sobre ser considerada “brega” ou coisa que o valha, é sobre ocupar esse espaço, é sobre se apropriar das suas escolhas, é só demonstrar autoconfiança. (Que a gente tanto busca, mas quando alcança, acha que tem que esconder – já falou Shonda Rhimes muito bem sobre isso, que inclusive foi assunto do meu primeiro post nesse blog!)
A roupa não só pode, como deve ser uma ferramenta pra gente ocupar nosso espaço. Vencer o medo de usar uma peça chamativa é muito mais do que isso, afinal de contas.

Vou encerrar esse post com um dos poucos casos de consultoria em que o desafio era exatamente o oposto disso.
Tive uma cliente que estava num momento de buscar mais reconhecimento no trabalho. Ela era super confiante profissionalmente, cheia de ambição e zero problema em aparecer. Uma mulher super extrovertida, expansiva e que gostava (e não tinha problema em verbalizar isso!) de ser o centro das atenções, especialmente no trabalho, uma vez que esse era o papel dela mesmo.
Mas mulher, no ambiente corporativo, já viu, né?! Tinha que falar três vezes mais alto que os homens da sala pra ser ouvida. E a roupa não ajudava! Mais por falta de conhecimento do que por medo, ela sempre optou pelo caminho fácil e seguro: calça social e camisa. Nada que fizesse ela se destacar, nada que traduzisse quem ela é de verdade, nem que ajudasse ela a ocupar esse espaço que ela queria.
Durante o processo de consultoria, ela descobriu cores, texturas e modelagens que continuavam super adequados ao ambiente de trabalho dela, mas que, mais do que isso, comunicavam sobre quem ela era. E claro, davam aquela forcinha pra ela ampliasse a voz que já tinha.
No nosso último encontro ela me falou uma coisa que foi o melhor feedback que eu podia ter recebido. Ela disse que depois da consultoria, ficou mais fácil, adivinhem o quê!? Chamar atenção! Ou seja, ficou mais fácil exigir ocupar o espaço que, afinal, já era dela.
Como mulher, já é super difícil que nossa voz seja ouvida, é super difícil contar nossa história e a roupa, por si só, não faz milagre. Roupa, por si só, não vai nos tirar desse lugar de opressão. Roupa, inclusive, pode ser bem opressiva. Mas não precisa ser e pode, ainda, ser nossa aliada nessa batalha.
Que a roupa não nos jogue ainda mais no background, mas que nos ajude a brilhar!
Agora me contem aqui: vocês tem medo de se destacar na multidão?