Um amor: roupas feitas sob medida

Tem um tempinho, eu postei lá no Instagram uma foto de uma ex-cliente de consultoria que, habilidosa e insatisfeita com as condições de trabalho na indústria da moda, resolveu aprender (e aprendeu muito bem!) a fazer as próprias roupas. Acontece que eu achei que não tinha esgotado o assunto naquele post e tô voltando nele aqui.

Minha mãe aprendeu a costurar com a minha avó e virou uma costureira de mão cheia. Chegou a ter confecção quando eu era pequena e foi assim que eu cresci no meio das máquinas de costura e dos tecidos. Na adolescência, eu queria ser diferentona e me negava a usar o que tava todo mundo usando, então a solução era inventar minhas próprias roupas. Eu comprava tecidos e criava modelos que seriam executados pela minha mãe. Daí pra faculdade de moda foi um pulo e essa história de trabalhar com moda já dura mais de 10 anos.

Ainda que eu não saiba costurar, eu nunca perdi o costume de criar minhas próprias roupas e eu sempre soube o papel importante que isso tem na minha forma de me expressar, mas só recentemente eu parei pra pensar nas outras implicações de fazer suas próprias roupas – ou encomendar para que uma costureira faça!

O primeiro deles é esse aí: o exercício da criatividade e individualidade.

Quando você faz as suas roupas fica livre pra usar o que você quiser e isso significa que você não fica dependente do que as marcas dizem que você deveria usar. E tem liberdade maior que essa? Fora que você não corre o risco de sair na rua e ver alguém vestindo a mesma coisa que você.

Segundo: caimento.

Já falei nesse post aqui que é muito raro comprar uma roupa que caia como uma luva direto da arara. Porque, pensa comigo, não existem dois corpos iguais. Cada pessoa tem uma combinação muito específica de medidas, curvas, tamanhos e proporções. É impossível que uma roupa feita em larga escala atenda a todos os corpos. Claro que tem peças mais simples de vestir do que outras (roupas de malha, em geral, por exemplo), mas para todas as outras, não tem jeito, sob medida é a melhor solução. Já imaginou vestir uma roupa que respeita cada medida, curva e particularidade do seu corpinho?!

Terceiro: qualidade.

Roupa feita sem pressa, fora da linha de produção é roupa feita com mais cuidado é roupa feita com mais cuidado dura mais. Simples assim.

Quarto: roupa sob medida é slow fashion em sua forma mais pura.

Quando você faz ou manda fazer uma roupa, o tempo é mais lento, tem a escolha do tecido, do modelo, das provas… você acompanha todo o processo, vê a peça tomando forma, entende o que está em jogo nessa construção… Claro que pras ansiosas pode não parecer nada atraente, mas mudar o ritmo das nossas relações de consumo está no cerne dos nossos problemas relacionados a isso. Ouso dizer que, quando uma roupa é feita dessa maneira, a gente cria um vínculo, tem mais carinho, tende a cuidar melhor e a usar por mais tempo. Tô sendo romântica aqui, mas realmente acho que é uma quebra de paradigmas enorme.

Quinto: comprando de quem faz, a gente garante que quem realmente trabalhou na produção é beneficiado.

Comprando de grandes empresas e multinacionais, na maioria das vezes, quem realmente trabalhou na produção tem um salário baixíssimo e você ainda corre o risco de estar colaborando com uma empresa que utiliza trabalho escravo. (Fora isso, comprar local tem uma série de outros benefícios, mas vou parar por aqui porque acho que já deu pra entender, né?!)

Veja bem, eu sei que a vida anda corrida e não to julgando ninguém que compra roupa pronta. Eu compro. Mesmo fazendo minhas roupas, eu também compro. Só estou trazendo esses questões como uma forma de reflexão. Acho importante refletir pra tirar nossas escolhas do piloto automático, pra gente saber de verdade o que cada uma delas impacta. Às vezes a gente escolhe por hábito e nem se dá conta de que podia estar fazendo diferente. Então esse é meu convite pra você refletir sobre outras maneiras de se relacionar com suas roupas. Não é a única possível, mas é bom saber que ela existe.